Um livro que ultrapassa a dor e que é pleno de amor, amizade, dedicação e vitória. Um livro que fala das lutas desumanas travadas por humanos fragilizados, vidas por vingar, heranças culturais perdidas e tantos os filhos órfãos de uma batalha esquecida... a guerra travada no Afeganistão.
As duas protagonistas desta história são duas mulheres diferentes e com histórias de vida completamente distintas mas com algo em comum: casaram com o mesmo homem... Um marido violento e castrador. Um marido que fazia com que vivessem numa constante luta de sobrevivência e num imenso clima de medo. Estas duas mulheres uniram-se na dor e tornaram a relação delas numa bonita união de amizade.
O medo que sentiam do marido era muito idêntico ao medo de viverem numa cidade, Cabul, que era fustigada pela guerra.
Além desta história de amizade e de união acompanhamos as imensas guerras travadas, a fome, a doença, a dor, a violência extrema, as bombas, a destruição, a morte e as imensas balas perdidas num país destruído, Afeganistão... É dor que se sente ao ler este livro, um aperto no coração em que quase se sente, quase se cheira e quase se sente o travo amargo de um sofrimento impossível de suportar.
Uma cultura destruída e massacrada de uma forma tão dolorosa em que tantos perderam a vida.
Como me sinto grata por viver numa sociedade que respeita as mulheres e que nos faz sentir importantes e apreciadas.
Khaled Hosseini escreve de uma forma realista e fluida sobre uma cultura tão dura. A verdade nas palavras deste escritor são como já disse uma vez: arrebatadoras e dilacerantes. O segundo livro que já li deste escritor e não o último porque estes relatos duros fazem com que me sinta abençoada por viver tão bem, porque não imagino a cicatriz interna que uma guerra causa.
O passado continha apenas uma sabedoria: o amor era um erro perigoso, e a sua cúmplice, a esperança, uma ilusão traiçoeira."
Khaled Hosseini escreve de uma forma arrebatadora e dilacerante. Tem o dom de provocar as nossas maiores emoções e esta é uma história que não irei esquecer facilmente, porque nos fala de amizade, lealdade, culpa, amor, perdão, segundas oportunidades, arrependimento e redenção.
Mostra o contraste e a fragilidade da civilização humana que através de convicções politicas e religiosas impedem a dignidade e liberdade humana de poder voar mais alto. É uma história angustiante e poderosa.
Senti-me a ser educada enquanto ser humano e fez-me viajar por uma cultura tão distinta da nossa, e tive o privilégio de conhecer o Afeganistão de antes, de como era e de como passou a ser depois da conquista Talibã.
Apetece-me contar todos os pormenores desta incrível história mas não posso porque o que eu gostava mesmo era de vos convencer a ler este livro intenso, por isso vou falar apenas um pouquinho para aguçar a curiosidade:
Amir e Hassan cresceram juntos, apesar das diferenças sociais que os separavam. Amir era de boas famílias e Hassan de uma etnia afegã diferente (Mongois) o que não lhes permitia aprender a ler e a escrever, já que eram considerados inferiores na comunidade.
A amizade era tão forte que Hassan era capaz de dar a vida pelo amigo. Mas eles eram pessoas muito diferentes.
Hassan era leal e corajoso e Amir cobarde e fraco e tudo o que mais queria era ganhar a competição de papagaios de papel que acontecia em Cabul todos os anos, apenas para impressionar o pai.
O lançamento de papagaios era algo de muito importante para todos os habitantes que viam os céus de Cabul encher-se de cor e animação.
Mas num desses concursos de papagaios tudo muda, e as vidas dos dois muda drasticamente, porque quando Hassan mais precisou de Amir esse foi cobarde e virou-lhe as costas sendo o primeiro acto de traição dele. A partir desse dia Amir começou a carregar a culpa dos seus actos pelo resto da sua vida.
O fantástico enredo e testemunho histórico tem no voo do papagaio a alegoria à liberdade. Liberdade que não foi duradoura e que transformou o Afeganistão num país dominado pela guerra.
Da mesma forma que esta amizade foi destruída também a normalidade do Afeganistão foi afectada pela desumanidade da guerra.
"A vida é um comboio... Não o percas". Este livro fala-nos de como uma acção pode condicionar a nossa vida e a dos outros e que "Quando contamos uma mentira, roubamos a alguém o direito da verdade".
É um romance poderoso, que nos demonstra o verdadeiro sentido da amizade e sacrifício, em que as personagens se definem pelas suas acções.