Do prazer de ler: "Pássaros Feridos"
Apresento-vos o meu livro favorito e o que mais recomendo:
É um romance denso e épico que conta a história da família Cleary que tem início no começo do século XX, quando Paddy, diante da falta de trabalho na Nova Zelândia, leva a esposa Fiona, e os sete filhos do casal para Drogheda, para trabalharem numa enorme fazenda de criação de carneiros, localizada numa remota região da Austrália.
A fazenda era da sua irmã mais velha, viúva e sem filhos. Uma velha mal amada e amargurada.
Entre os 7 filhos, encontra-se Maggie, a incrível protagonista deste romance.
A história de Maggie é contada a partir dos 7 anos desde quando se sente excluída pela mãe, que sempre deu preferência aos filhos homens (principalmente ao mais velho), até ao final da sua vida.
As personagens são sofridas e marcantes, que fazem com que se integrem perfeitamente num cenário rude e fascinante: as vastas extensões dos campos australianos que forçam os habitantes a uma existência isolada, na qual os caracteres se modelam muito à semelhança desse ambiente.
Mas o que dá vida e ser a este incrível livro é o proibido amor de Maggie pelo ambicioso padre Ralph de Bricassart. Uma história de amor fantástica, envolvente, forte e significativa. Não julguem este amor sem antes o lerem.
Foi um amor de uma vida que sobreviveu à distancia, aos sofrimentos, às ambições e às tragédias humanas. Um amor verdadeiro, puro e sem igual.
O livro emociona do primeiro ao último capítulo. É impossível não nos sentirmos envolvidos com a vida da Maggie. Eu sofri, ri, chorei em todas as fases da vida dela.
De criança a senhora. De menina a mãe.
As três gerações que dão vida a este livro completam-se e reforçam contrastes, tornando-o, também, num livro que conta uma saga familiar, na qual os erros e traumas dos mais velhos influenciam os mais novos, como um ciclo perfeitamente natural.
Colleen McCullough, principalmente neste livro, prova-nos com toda a sua magnitude, o seu excepcional talento como contadora de histórias. A sensibilidade da autora em descrever tantas personagens, articulando-os em tantas gerações é digno de glória.
A história é contada com extrema sensibilidade e mestria, embelezada com soberbas descrições e apoiada por uma interessante contextualização histórica.
Os diálogos sinceros, o estilo simples e cativante fazem deste livro o melhor que já li. Virar a última página foi tão doloroso e sufocante.
Infelizmente, Colleen McCullough faleceu recentemente (Janeiro de 2015), mas deixou-nos um último livro, que estou a ler neste momento "Agridoce".
Existe uma lenda acerca de um pássaro que só canta uma vez na vida, com mais suavidade que qualquer outra criatura sobre a terra. A partir do momento em que deixa o ninho, começa a procurar um espinheiro-alvar e só descansa quando o encontra. Depois, cantando entre os galhos selvagens, empala-se no acúleo mais agudo e mais comprido. E, morrendo, sublima a própria agonia e despede-se no canto mais belo que o da cotovia e o do rouxinol. Um canto superlativo, cujo preço é a existência. Mas o mundo inteiro pára para ouvi-lo, e Deus sorri no céu. Pois o melhor só se adquire à custa de um grande sofrimento... Pelo menos é o que diz a lenda.
Curiosidade: Sabiam que noutros países este livro deu origem a séries? É sem dúvida uma história marcante e cativante.